27 de jun. de 2009

[Séries] How I Met Freaks and Geeks


Há uns 2 meses atrás, mais ou menos na época em que eu escrevi o post sobre o Incrível Homem que Derreteu, estava procurando alguns filmes da sessão da tarde pra baixar e matar a saudade. Nessa procura acabei entrando no site Filmes com Legenda e encontrei uma grande quantidade deles. Filmes como: Férias Frustradas, Um Dia a Casa Cai, Sem Licença Para Dirigir, Clube dos Cinco e muitos outros. Mas o que acabou me chamando a atenção não foi um filme, e sim uma série que encontrei por lá. Freaks and Geeks.

Nunca tinha visto nenhum episódio da série, mas tinha certeza de já ter ouvido falar e tinha uma vaga lembrança de não ter baixado antes por achar que uma série sobre pessoas estranhas não deveria ser legal. Porém, depois de ver The Big Bang Theory meu conceito sobre ver série sobre nerds mudou e resolvi dar uma chance.


Outra coisa que ajudou bastante foi o trailer que tinha no post do referido site. Ao som da empolgante “Bad Reputation” de Joan Jett, os protagonistas se revezavam numa sessão de fotos para o anuário do colégio. A série de atores, hoje bastante conhecidos como, por exemplo, James Franco (Homem Aranha, 2002) e Seth Rogen (Ligeiramente Grávidos, 2007), ainda em início de carreira, entrando e saindo de cena foi outro chamariz. Baixei na hora e a cada episódio assistido a ansiedade pelo próximo só aumentava.

Freaks and Geeks é uma série americana criada por Judd Apatow e Paul Feig produzida entre 1999 e 2000. Ela ambienta-se nos anos 80 e gira em torno de Lindsay Weir (Linda Cardellini) e seu irmão menor Sam Weir (John Francis Daley) mostrando os dramas e conflitos comuns a todos nós nessa fase estranha que é a adolescência.

Lindsay após a morte da avó entra num dilema pessoal. Continuar vivendo a sua vida certinha de aluna exemplar, boa filha, campeã dos campeonatos de matemática ou viver mais espontaneamente aproveitando melhor a vida. É por causa desse dilema que ela acaba se aproximando do grupo de “freaks” da escola composto por Daniel Desario (James Franco), Ken Miller (Seth Rogen), Nick Andopolis (Jason Segel) e Kim Kelly (Busy Philipps).


Já Sam e seus amigos, Bill Haverchuck (Martin Starr) e Neal Schweiber (Samm Levine) são o estereótipo dos nerds. Gostam de Star Wars, séries, quadrinhos, não levam jeito com garotas, mesmo Sam sendo alvo da simpatia da garota mais popular da sua série, e são alvos freqüentes dos encrenqueiros juvenis.

Infelizmente a série foi cancelada após somente 18 episódios por baixa audiência, o que é uma pena, já que a série apresenta uma qualidade acima de muitas outras que tiveram vida longa.

Mostrei a série pra minha namorada e ela adorou. Um tempinho depois ela comenta que tinha visto no IMDb que o Jason Segel, que na série faz o “par romântico” da Lindsay tava fazendo outra série que parecia legal, How I Met Your Mother. Prometi que ia baixar pra ela, mas fiquei me perguntando se uma série que fala como alguém conheceu a mãe dos filhos poderia ser legal. Mais do que isso, fiquei me perguntando como uma série com essa premissa podia já ter 4 temporadas. Mas promessa é dívida, então baixei. E não é que o negócio é bom.


How I Met Your Mother, como o próprio nome diz, conta a história de como Ted Mosby (Josh Radnor) conheceu a mulher com quem ele teve seus filhos. Porém, pro azar de seus filhos que tem que ouvir a história do pai ao invés de poder ir ver televisão ou fazer algo mais divertido, Ted é bastante prolixo, assim como quem vos escreve, e começou a contar a história desde o começo mesmo.

A série começa na época em que seu amigo Marshall Eriksen (Jason Segel), com quem ele divide o apartamento, resolve pedir a namorada, Lily Aldrin (Alyson Hannigan) em casamento. Vendo que está chegando aos 30 e que continua solteiro Ted, com a ajuda de Barney Stinson (Neil Patrick Harris), seu amigo mulherengo e sempre com uma teoria maluca ou com algum bordão, resolve partir em busca do verdadeiro amor. Ele acaba encontrando Robin (Cobie Smulders), que parece ser a pessoa certa, mas nem sempre o destino quer que as coisas sejam assim tão fáceis.

Ela é bastante divertida, e apesar de não ser direta tem um fluxo muito legal mostrando a rotina dos personagens e as aventuras amorosas de Ted sempre acompanhado dos bordões do sem noção Barney.

[Literatura/Nostalgia] Conte outra vez... mas agora conte a original

Era uma vez.
Outra história assim vai começar
E todos vocês
Neste mundo encantado vão sonhar
É só escutar com atenção e viajar na asa da imaginação
Que a alegria vai tomar seu coração...


Esse foi, com certeza, o versinho que eu mais ouvi na minha vida.

Quando pequeno eu tinha uma coleção de livros de fábulas que vinham com uma fita K7 e era apresentada pela Xuxa, a coleção “Conte Outra Vez”. Nunca fui muito fã da Xuxa, mas agradeço por ela ter feito a apresentação das fitas que eu tanto gostava. Ou não, já que ela só fazia a introdução...

Bem, era quase um ritual. Antes de dormir eu pegava meu toca fitas gradiente, colocava uma das 12 fitas e ficava compenetrado ouvindo as vozes de José Rubens Chachá, Rosi Campos e outros contando aquelas fábulas maravilhosas. Ouvi até a exaustão.

Depois que cresci um pouco acabei ouvindo menos e não sei como, as fitas que ficavam numa caixa de papelão embaixo da minha cama acabaram sendo atacadas por formigas e ficaram estragando. Ou jogaram fora por estarem cheias de formigas, não lembro bem o que aconteceu, só sei que as fitas foram pro lixo. Sobraram os livros, mas eles não tinham a mesma graça sem elas. Acabou que esses, depois que eu fiquei maior, foram dadas pra filha dum casal amigo dos meus pais que era pequena na época. Uma pena porque gostava bastante deles, mas ao menos ficaram as boas lembranças.


Acabei me lembrando disso em parte por ter feito um post sobre os quadrinhos Fábulas, mas, principalmente, por ter ido pegar minha dose semanal de Nerdcast ontem.

Quando entrei no site do Jovem Nerd acabei me lembrando que foi por essa época, há uns 2 anos atrás, que tive meu primeiro contato om o podcast deles. Era um sobre São João (Nerdcast 67 - Salsichão, Pau de Sebo e Muita Mariola), bastante divertido por sinal, mas o que chamou minha atenção mesmo foi o de número 66 (Nerdcast 66 - Era uma vez um Nerdcast), o segundo que eu ouvi. Nele a trupe bate um papo interessante sobre as fábulas e suas origens, tanto de onde vieram como as suas versões iniciais.

Lembrando disso, lembrei que num especial de Fábulas (Fábulas - 1001 Noites, Editora Pixel), a Branca de Neve vai ser morta por um sultão ao amanhecer e para não morrer acaba contando a cada noite uma nova história, aos moldes de Sheherazade, nas Mil e Um Noites (daí o nome do título da revista). Cada história dessa conta uma versão de uma fábula. O legal é que as versões não são as contadas hoje em dia e versões mais próximas as originais contadas através da tradição oral na Europa Medieval. Não vou contar como são essas versões pra não estragar a surpresa pra quem se interessou, mas são bem legais e essa edição especial da pra ser encontrada fácil em sites de livrarias por um preço relativamente baixo.

Já que não vou contar a versão de Fábula das fábulas, vou contar como seriam as versões originais de alguma das fábulas mais famosas. Vale lembrar que naquela época as histórias, que hoje são considerados contos de fadas, eram na verdade histórias destinadas a adultos e traziam doses fortes de adultério, incesto, canibalismo, exibicionismo, estupro, voyeurismo e mortes hediondas. A “moral da história” que as fábulas hoje em dia têm deve-se em parte a Charles Perrault, que em 1697 publicou Contes de ma Mère l'Oye ("Contos da minha Mãe Gansa"), que continha, ao final de cada história, uma lição de moral.

Cinderela:


É um dos contos mais antigos e com mais versões. Em alguns a fada madrinha é um peixe gigante, em outros uma árvore que nasce sobre o túmulo da mãe da Cinderela. Cinderela, que por sinal na época não tinha esse nome, e sim, Rhodopis.

Nela as irmãs más para conseguir calçar o sapato de cristal, e assim enganar o príncipe, cortam os dedos dos pés. Porém, elas são desmascaradas por pássaros amigos da Cinderela que mostram ao príncipe o sangue escorrendo pelos sapatos. Como vingança os pássaros arrancam os olhos das irmãs malvadas e estas passam o resto de suas vidas cegas e mancas.

Há ainda outra versão em que o pai de Cinderela quer após a morte de sua esposa jura se casar novamente apenas com uma mulher que conseguisse calçar os sapatos da finada. Acontece que Cinderela consegue e o pai cisma que eles tem que se casar. Então Cinderela foge um barco feito dum armário e acaba indo virar escrava das irmãs más e a história segue mais ou menos como a conhecemos.

João e Maria:


João e Maria, que no original alemão se chamavam Hansel e Gretel, já é por si só terrível, com os pais abandonando os filhos na floresta, mas em versões antigas a madrasta que convence o pai a abandoná-los e a bruxa são a mesma pessoa. Em outra versão, ao invés de uma bruxa má temos um casal de demônios que querem estripar o João num cavalete de madeira ao invés de só cozinhá-lo como hoje em dia. Quando o demônio macho dá uma saída a “demônia” pede ajuda a Maria pra preparar João, pra quando o marido voltar poder começar logo. Maria se faz de desentendida e pede pra demônia mostrar como se faz. Nesse meio tempo, enquanto ela está fazendo a demonstração, João e Maria, amarram-na e cortam sua garganta, fugindo em seguida com o dinheiro do casal demoníaco.

Cachinhos Dourados:


Cachinhos Dourados não tem grandes variações. Apenas que em algumas versões ela é comida pelos ursos quando estes a encontram dormindo na cama do pequeno após ter comido da comido e sentado na cadeira deles. Outra versão diz que ela era uma bruxa e que pulou por uma janela quando acordada. Dependendo da versão ela pode ter ou quebrado o pescoço ou sendo presa por vagabundagem.

Bela Adormecida:


Esse daqui tem uma das versões mais barra pesada. Nas suas origens ao invés de uma agulha, o que a faz dormir é uma farpa debaixo da unha. Quando o príncipe “encantado” aparece e a vê dormindo ele ao invés de dar um beijo se aproveita dela, se é que vocês me entendem. Desse estupro ela engravida e dá a luz a gêmeos após nove meses. Na tentativa de mamar as crianças sobem pelo corpo da mãe e acabam chupando a farpa pra fora do dedo, acordando a Bela Adormecida. O príncipe que voltava freqüentemente ainda pra se aproveitar dela, dessa vez tem uma surpresa ao vê-la acordada e resolve se casar com ela. Porém, a rainha era uma ogra e devoraria as crianças se eles voltassem para o reino. Portanto, o príncipe espera até o pai morrer e, finalmente, se tornar rei para levar a Bela, agora acordada. Porém, na primeira viagem que o rei fez a sua mãe ogra come os gêmeos e só não come a nora por que ela conseguiu se esconder. Quando o filho volta e vê o que aconteceu manda matar a mãe.

Branca de Neve:


Nas versões originais a branca de neve não é despertada com um beijo e sim porque um dos carregadores do príncipe que levavam o corpo de Branca de Neves, após este ter pego a garota “morta” para levar para o seu castelo, sem querer deixa o caixão escorregar e o pedaço de maçã envenenado sai da garganta dela. Outras diferenças são em relação a bruxa/madrasta que as vezes podia ser a própria mãe. Nessas versões a bruxa não morre caindo de um penhasco como no filme da Disney e sim é obrigada a passar o resto da vida calçando sapatos de ferro em brasa. Há ainda versões diferentes com relação ao que ela pediu ao caçador. Ao invés de só o coração, nestas versões ela pede vários outros órgão que seriam servidos no jantar.

Pequena Sereia:


A diferença entre versões se encontra basicamente no final. No original ela vê o príncipe se casando com outra mulher e fica desesperada. É lhe oferecido um punhal para que ela possa matar o príncipe e obter assim sua vingança. Porém, ela ao invés disso apenas se joga ao mar e morre transformada em espuma.

Flautista de Hamelin:


A história aqui também só muda no final. Ao invés de devolver as crianças após a cidade ter pagado pelos serviços prestados, ele faz com que elas se afoguem num rio. Há ainda versões que envolvem pedofilia numa caverna escura.

Chapeuzinho Vermelho:


Nas versões mais antigas dessa história, o lobo após matar a vovozinha corta alguns pedaços da velha e tira um pouco de sangue dela deixando-os, num prato e num copo respectivamente e fica no lugar da velha. Quando Chapeuzinho chega ele oferece a carne e o sangue da velha e depois pede pra garota tirar a roupa e depois entrar na cama onde o lobo a devora. Em outras versões Chapeuzinho tira a roupa pra distrair o Lobo e poder fugir ou ainda diz que precisa ir ao banheiro e também foge.

[Conto] A carteira


- Senhor, a carteira!

Essas coisas só acontecem comigo quando estou atrasado para o serviço. Pior é que eu já cheguei fora do horário ontem. O supervisor vai querer comer meu fígado hoje. Já posso ir me preparando pro esporro. Mas eu tenho que fazer isso. Eu podia apenas ficar com o dinheiro do cara e dane-se a carteira com os documentos dele, mas eu não sou assim.

- Senhor, a carteira!

Ta certo que ele está um pouco distante, mas não é possível que ele não esteja me ouvindo. Será que ele é surdo? Só me faltava essa.

- Senhor, a carteira!

A partir de amanhã vou começar a fazer uma dieta, caminhar todo dia, o que for. Só não da pra ficar assim. O senhor deve ter uns 20 anos a mais que eu. Não está correndo e mesmo eu andando num passo acelerado não estou conseguindo alcançá-lo. E nem pensar em correr no meio da rua até ele. Eu prefiro morrer a fazer esse papel de ridículo.

- Senhor, a carteira!

Maldita carteira. Devia ter deixado ela lá. Espero que ao menos ele me dê uns trocados como recompensa. Pelo menos assim posso comprar um refrigerante e matar a sede que essa perseguição ta me causando.

- Senhor, a carteira!

Será que ele não percebeu ainda que derrubou a carteira na hora que pagou o restaurante? Que droga. Estou atrasado.

- Senhor, a carteira!

O semáforo! É agora. Ele parou. Vou conseguir alcançá-lo!

- Senhor, a carteira!

Ainda um pouco distante. Mas vai dar tempo. Vou alcançá-lo, entregar a carteira e dar no pé para tentar chegar no horário no serviço.

- Senhor, a carteira!

Droga, ele resolveu atravessar a rua mesmo com o semáforo fechado. Já está no meio da rua. Que droga. Mas já estou perto o suficiente. Agora ele já consegue me ouvir, não é possível.

- Senhor, a carteira!

Ele me ouviu. Percebeu que não está com a carteira. Parece feliz com a minha boa ação. Talvez até me dê uma recompensa.

- Senhor, a carteira.

Quase lá. Cinco, seis passos, talvez.

Mas peraí. Não!

- Senhor, o ônibus!

Droga! Vou chegar atrasado a toa...

24 de jun. de 2009

[Quadrinhos/Séries] Em Deadwood as Fábulas sacam primeiro


Aproveitando que meu feriado de São João ia durar praticamente uma semana resolvi arranjar algo pra me entreter e ver se o tempo passava mais rápido e eu ficava finalmente de férias.

Como nerd preguiçoso, e aproveitando que anda chovendo praticamente todo dia e o dia todo aqui em Recife, resolvi, a princípio, colocar em dia minha leitura da HQ Fábulas (Fables) que há algum tempo andava parada.

Pra quem não conhece, Fábulas é uma HQ publicada nos EUA pela Vertigo, selo de quadrinhos com uma temática mais adulta da DC Comics (mesma editora de Batman, e Super-Homem), que já teve 3 encadernados lançados por aqui pela editora Devir (Lendas no Exílio, A Revolução dos Bichos, O Livro do Amor) e algumas edições e especiais publicados pela editora Pixel. Na revista, criada por Bill Willingham em 2002, Branca de Neves, Lobo Mau, Bela, Fera, Príncipe Encantado e centenas de outras fábulas tão bem conhecidas por nós dos contos infantis (algumas nem tanto) estão sendo alvo, na sua terra natal, do terror aplicado por um ser maligno conhecido apenas pela alcunha de Adversário. Tentando sobreviver à dominação imposta por ele, as fábulas fogem do seu mundo e vem buscar abrigo no nosso mundo real, e se estabelecem em Nova York.


Ao se estabelecerem em Nova York todas as fábulas concordam em dar anistia pelos seus “crimes” cometidos no passado e pra não chamar tanta a atenção movem todas as fábulas não humanas para “Fazenda”, uma propriedade fora da zona urbana protegida magicamente contra bisbilhoteiros. A cidade das Fábulas, como eles próprios chamam os quarteirões onde se concentram é comandada pela Branca de Neves e tem como Xerife o Lobo Mau, que no mundo real adotou uma forma humana.

As histórias são incrivelmente bem escritas e com roteiros soberbos que valeram a publicação uma coleção de prêmios, dentre eles vários Eisner Awards, o Oscar dos quadrinhos, muito mal comparando.


O único problema de ler Fábulas foi que acabaram muito rápido as edições traduzidas que encontrei. Meu feriado ainda não tinha chegado nem a metade e eu não tinha muito mais o que fazer, então resolvi colocar em dia outra coisa que a muito tempo andava me devendo. Assistir a terceira e última temporada de Deadwood.

Curioso é que eu não gostava de faroeste antigamente. Na verdade odiava. Achava longo e chato. Mas isso tudo mudou quando eu tive espinhas. Estranho falar isso, mas é a mais pura verdade. Como disse no post das espinhas eu acabei indo regularmente a uma dermatologista que ficava num shopping, e enquanto esperava o início da consulta gostava de olhar se tinha algo interessante na banca de revistas.


Numa dessas idas a banca vi uma revista que me chamou a atenção. A capa mostrava um cowboy de costas atirando contra um tipo mexicano numa espécie de duelo dentro de um cemitério, e em letras grandes a frase “Tex contra El Muerto”. Nunca tinha lido uma revista do Tex antes, mas aquela capa me fez comprar a revista, e ainda bem que eu a comprei porque ela mudou meu conceito sobre faroeste. A história toda era incrível e a cena final com o duelo dos dois só foi superada pra mim quando anos mais tarde eu vi a cena do duelo triplo de “O Bom, o Mal e o Feio”, outro filme que após ver só fez minha admiração pelo gênero aumentar.

Deadwood é uma série de faroeste da HBO que mostra o surgimento e o cotidiano da cidade de mesmo nome no velho oeste americano. O legal é que a cidade realmente existiu (os fatos eu não posso garantir) e fica atualmente no Estado de Dakota do Sul. Como praticamente toda série da HBO ela é de uma riqueza de detalhes e de um realismo impressionante. Faroeste ao bom e sujo estilo italiano.

Nessa terceira temporada o garimpo está em polvoroso com a tensão crescente entre os figurões da cidade. O poderoso e mal intencionado, recém dono do hotel da cidade, George Hearst está decidido a controlar o garimpo e aumentar sua influência na cidade. Para isso ele precisará comprar as licença de exploração da Sra. Ellsworth e não medirá esforços para conseguir, nem que para isso tenha que provocar uma “Guerra Fria” contra o dono do Gem Sallon, Al Swearengen, e o xerife da cidade Seth Bullock.

A temporada é um pouco mais fraca que as anteriores, mas ainda assim consegue manter o bom ritmo série. Um pena que não houve uma quarta temporada porque o clímax gerado no último episódio poderia ter sido melhor aproveitado se houvesse.


A belíssima abertura de Deadwood:


Um das pancadarias que acontece nessa terceira temporada. Pode conter spoiler.

11 de jun. de 2009

[Futebol/Nostalgia] 3 dentro 3 fora e picolé de abacate


Quanto era pequeno, nos idos de 94, 95, a rua onde eu moro fervilhava de crianças. Eram três prédios com facilmente mais de 20 crianças, e não estamos falando desses espigões de hoje em dia e sim de prédios pequenos de no máximo 6 andares. Além disso, o bairro onde eu moro era muito mais calmo do que hoje em dia, dava pra contar nos dedos das mãos o número de carros que passavam numa tarde. Num lugar assim, com muitas crianças a rua se tornava o principal ponto de encontro pras brincadeiras, principalmente o bom e velho futebol. Barrinha, barrão, barra-a-barra, zorrinha, 3 dentro 3 fora, bobinho, o número de variedades era quase infinito, sem contar as variações dentro das variedades.

Dentre estas a que mais jogávamos era sem dúvida 3 dentro 3 fora.

4 pessoas, um portão e uma bola, era tudo que precisávamos para passar um dia inteiro nos divertindo. Pra quem não conhece o jogo ele é bastante simples e é isso que o torna divertido. Das 4 pessoas uma fica no gol e as outras três jogam na linha. Se os jogadores de linha fizerem 3 gols troca o goleiro caso haja alguém esperando, se não houver mantém-se o goleiro até a linha cometer três “erros”, e é aí que entra a graça do jogo. Cada um cria a regra do que pode e o que não pode. No prédio vizinho jogava-se a variedade mais hardcore na minha opinião. Cada um só podia dar um toque na bola, só podia dar toque no ar, se desse dois era erro, se a bola parasse no chão tinha que ser levantada com um só toque, caso contrário era erro, se o goleiro agarrasse era ponto pra ele e pra finalizar se a bola saísse era erro. Isso sem falar que o portão onde jogávamos devia medir 1,70 m de altura por 2,50 m de largura o que tornava impossível fazer gol.

Nessa época eu devia ter uns 7 ou 8 anos e os outros jogadores eram sempre mais velhos, numa média de 4 ou 5 anos a mais. Pela diferença de idade eu mais assistia do que jogava, mas mesmo assim me divertia, principalmente quando conseguia sair do gol pra linha o que sempre provocava uma onda de gozação em cima de quem tinha cometido o último erro e ido pro gol.

Jogava isso todo dia durante as férias, às vezes começando de manhã e terminando a noite. Mas o tempo passou e a diferença de idade começou a ficar evidente. Os amigos que jogavam comigo começaram a entrar na adolescência e isso acabou fazendo as partidas diminuírem até pararem de vez.

Felizmente começaram a chegar outras crianças, dessa vez da minha idade, ao meu prédio o que possibilitou uma volta às velhas partidas de futebol. O portão agora não era mais o do prédio vizinho e sim o do meu prédio, que era maior e tornava as coisas mais fáceis. As regras também mudaram com o tempo, na verdade cada partida tinha uma regra diferente que precisava ser definida antes do início. Saiu o toque somente no ar, entrou só poder tocar de primeira, saiu o ponto ao agarrar a bola, depois de um tempo voltou a valer e por aí vai. A única coisa que não mudava era o fato de jogarmos a tarde inteira.

Uma das coisas que eu mais gostava e que era regra nas partidas era a pausa pra chupar picolé. Todo dia por volta das 3 horas da tarde o “Galego” passava na frente do meu prédio vendendo picolé. Galego era um garoto, uns 2 anos mais velhos que eu, que passava com uma caixa de isopor recheada de picolés todo santo dia aqui pelo prédio. Chocolate, morango, cajá, amendoim, limão, o estranho danoninho com leite condensado e o que eu mais gostava o de abacate, esses eram alguns dos sabores que eu me lembro que ele vendia. Mas o que tornava a coisa mais agradável era o preço, 10 centavos o picolé. Ter um real naquela época era sinal de uma tarde feliz recheada de futebol, suor e picolé.


Porém, o tempo foi passando, o bairro foi crescendo, os terrenos baldios foram se transformando em prédios, o número de carros foi crescendo e o jogo de bolo acabou ficando comprometido. Os carros que antes podia se contar nos dedos das mãos já não podia sem contados nem se usássemos os dos pés, de todas as crianças por sinal.

A brincadeira começou a se tornar mais perigosa. De quando em quando tínhamos que parar para deixar um carro passar, o que acabou tornando a brincadeira monótona. A dinâmica do jogo tinha acabado e com mães protetoras a maioria das crianças ficou impedida de brincar no meio da rua. E o jogo morreu de novo.

Não morreu de todo porque ainda continuamos jogando dentro do prédio, mas a graça não era a mesma. Nunca mais vimos cenas memoráveis como o chute de dentro do prédio que acertou magistralmente o pára-brisa de um carro em movimento, o incrível vôo para defender um gol feito do amigo mais goleiro nato que eu já tive, ou a bola que sobreviveu ao ser atropelada certeiramente pelo pneu de um fusca. Mas não morreu principalmente porque aqueles dias mágicos regados a picolé e sorvete ficarão eternamente na memória.