29 de dez. de 2019

[Idiossincracias/Literatura] Uma Década em Leitura

Hoje eu me dei conta que faz 10 anos que eu uso o Skoob. Pra quem não conhece, o Skoob é uma plataforma/rede social para quem gosta de ler. Lá é possível registrar os livros lidos, marcar desejados, fazer resenhas, comentar, etc. Eu basicamente uso pra "anotar" os livros que vou lendo.

Eu não me considero um leitor voraz, como algumas pessoas que eu conheço, ou alguns booktubers que leem mais de 100 livros por ano. Olhando pra esses 10 anos, contabilizei 152 livros lidos, o que dá basicamente 15 livros por ano. É uma média que podia ser melhor, mas que me satisfaz. Podia ser melhor, porque nesse período teve alguns anos em que li por volta de 20 livros, mas nos últimos 3 anos o ritmo de leitura deu uma diminuída.

Entre 2010 e 2012 eu estava no mestrado, e apesar das leituras específicas da minha pesquisa e das atividades no laboratório, eu conseguia dedicar um bom tempo para a leitura. Eu 2013 eu comecei meu doutorado e no segundo semestre comecei a atuar como professor, o que fez com que o ritmo diminuísse já em 2013 e mais ainda em 2014. No começo de 2015 eu qualifiquei meu doutorado e já estava com as aulas estruturadas (além de ter tido uma greve que durou uns 3 meses), então voltei a ter um pouco mais de tempo para a leitura. Mas esse ritmo só durou aquele ano. Nos anos de 2016 e 2017 eu estava mais preocupado em terminar meu doutorado do que outra coisa, então foi só ladeira a baixo. Em 2018 e 2019 eu venho tentando recuperar o ritmo da leitura, mas está complicado. Eu assumi mais responsabilidades no trabalho e isso acaba demandando mais tempo e se reflete no ritmo da leitura. Mas esse ano de 2019 eu fiquei satisfeito de ter lido ao menos um livro por mês. No gráfico abaixo dá pra acompanhar o meu ritmo de leitura nesses 10 anos.


Outra coisa interessante que eu percebi foi como meu gosto literário foi mudando nesse tempo. No começo desses 10 anos eu estava lendo muito romance histórico, principalmente os escritos pelo Bernard Cornwell. Só em 2010 foram 4 livros dele lidos. Por volta de 2013 eu comecei a me aventurar mais nos livros de ficção científica tentando ler os clássicos. Nesse período eu li 1984, Laranja Mecânica, Neuromancer, O Homem do Castelo Alto, Fahrenheit 451, Fundação, entre outros. Sempre tive um pouco de resistência em ler livros do gênero (e dificuldade de achar edições novas até a editora Aleph apostar com força no segmento) e foi muito gratificante ter um maior contato com esses clássicos do gênero. Já nos últimos anos tenho cada vez mais lido livros de não-ficção, principalmente livros reportagem, um gênero que nunca tinha dado muita bola, mas que tem me cativado cada vez mais. 

Apesar da minha mudança de gosto, alguns autores sempre apareceram entre as leituras, como o Stephen King, o próprio Bernard Cornwell e Michael Crichton. São autores que eu adoro e que vez ou outra eu leio alguma coisa. É tanto que esses 3 são os autores que eu mais li nesse período de 10 anos. Só do Stephen King foram 12 livros lidos. Dá quase 10% do total. O gráfico abaixo mostra os autores que eu mais li nesse período.


Feito esse breve resumo das minhas leituras dos últimos 10 anos, vamos ao que eu li e ao que eu mais gostei de ter lido em cada ano.

2010

O ano de 2010 foi o ano em que eu mais li livros do Bernard Cornwell. Foram 4 livros do autor no total, sendo que Azincourt foi o que eu mais gostei dos 4. Mas dos 18 livros desse ano, o que eu mais gostei de ter lido foi o "A Zona Morta". Na época eu já tinha lido uns 2 ou 3 livros do Stephen King, mas a construção de personagem que ele faz nesse livro, a empatia que você adquiria pelo personagem principal nas primeiras 50-100 páginas, e a mudança de rumo que ele dá na vida dele de forma súbita e corajosa, é impressionante.


2011

Nesse ano eu li coisas que eu queria ler a muito tempo, como "O Parque dos Dinossauros" do Michael Crichton e "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça" do Washington Irving. Tive contato com Nick Hornby, George R. R. Martin e sua não tão famosa ainda Crônicas de Gelo e Fogo e Philip K. Dick, com "O Homem do Castelo Alto". Mas, por mais estranho que pareça, o meu preferido desse ano é o desconhecido "Cotoco", que eu adoraria que tivesse as continuações publicadas, mas que sei que nunca virão porque o livro não fez sucesso.

 
2012

Mais conhecido como o ano em que eu li uma "ruma" de Stephen King. Ao todo foram 4. Mas foi o ano também em que eu li o excelente "Sobrevivente" do Chuck Palahniuk. Pra mim o melhor livro dele dentre os que eu li. Li os ótimos "Contato" do Carl Sagan e "No Coração das Trevas" do Joseph Conrad. Finalizei a trilogia de livros do Guilherme del Toro e do Chuck Hogan, que gerou uma série (Strain) que eu comecei a ver, estava gostando, mas parei por falta de tempo.


2013

Apesar de menos leituras, a qualidade do que foi lido, eu acho superior ao anos anteriores. "Laranja Mecânica", "Fahrenheit 451" e "Fundação" no mesmo ano! Li também o "Mundo Perdido" do Michael Crichton, que me fez ter mais raiva ainda do filme, porque o livro é ótimo. Teve também o divertidíssimo "Cadê Você, Bernadette?". Mas a minha leitura preferida foi o não-ficção "Variedades da Experiência Científica" do Carl Sagan. O homem era um gênio mesmo. A maneira como ele consegue mostrar a insignificância do ser humano no universo, e de como a religiosidade pode ser experimentada de forma diferente quando você se coloco nessa posição, é única.


2014

Ano em que tive contato pela primeira vez com Fred Vargas e passei a amar a autora (sim, autora). Mais ficção científica com "Caverna de Aço" do Asimov, que na verdade é um livro policial com robôs. Teve o ótimo "O Maior Espetáculo da Terra", mas o que mais me prendeu foi "Novembro de 63" do Stephen King.


2015

Mais Fred Vargas, mais Stephen King, mais Chuck Palahniuk e mais ficção científica. Finalmente li "Neuromancer" que achei só ok, e "It - A coisa", que achei sensacional. Gostei bastante de "O Demonologista", mas o que levou o título de melhor do ano foi "Um Cântico para Leibwotiz" que, apesar de ter sido escrito nos anos 60, esta cada vez mais atual. Nele o mundo tem uma guerra nuclear e as pessoas culpam a ciência pelo caos que a sociedade está passando. Uma caça às bruxas começa e tudo ligado ao conhecimento cai por terra. O que resta de conhecimento fica nas mãos da igreja, através de livros, plantas baixas, mapas, etc, que vão sendo passados de geração pra geração por meio de cópias, como na idade média. Só que o que foi passado pra frente foram só os objetos, o conhecimento se perdeu.


2016

O ano de 2016 foi recheado de Fred Vargas e teve boas surpresas com o bom livro nacional "Realidade Oculta", que tem uma pegada bem parecida com "O Parque dos Dinossauros", mas com mais ficção-científica. O ponto forte é que o autor é paleontologista, então tem muita pesquisa por trás da história. Outra surpresa boa, mas que já era esperada pelos comentários positivos foi "A Guerra do Velho". Mas a melhor descoberta de 2016 foi sem sombra de dúvida "Z, A Cidade Perdida", que não foi bem uma descoberta, mas uma oportunidade de ler um livro que já queria a muito tempo, e de conhecer um dos autores que eu mais tenho gostado de ler ultimamente.


2017

Ano fraco de leitura, mas que foi redimido pela descoberta dos ótimos "A Caderneta Vermelha" e "Os Irmãos Sisters" e pela leitura de alguns dos maiores clássicos da ficção-científica: "1984", "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?" e "Tropas Estelares".


2018

Esse foi o ano da leitura de não-ficção. dos 10 livros lidos, 5 eram desse gênero e todos eu gostei bastante de ler. Coloco em destaque "Assassinos da Lua das Flores", "A Guerra" e "O Dono do Morro". Nesse ano também tive o prazer de ler "O Mundo Perdido" do Sir Arthur Conan Doyle, e conhecer uma faceta dele além dos livros do Sherlock Holmes.


2019

O ano ainda não acabou, mas dificilmente vou terminar mais alguma leitura até o dia 31, então posso dar por encerrado. Se já tive ano de ler romance histórico, ficção científica e não-ficção, esse foi o ano dos clássicos. Sejam mais antigos, ou clássicos modernos. Finalmente tomei vergonha na cara e li Kafka, li Dostoiévski, li Dumas, li Truman Capote, li Kurt Vonnegut. E todos foram bons. A única decepção foi "Crime e Castigo", não por ter achado ruim, mas porque minhas expectativas era muito grandes. Voltei a ler Michael Crichton, e como eu estava com saudade! Mas o grande destaque, e um dos melhores livros que eu li na vida, foi "O Vendido" do Paul Betty. Um livro que só pode ser escrito porque o escritor era o Paul Betty. Façam um favor a si mesmo. Leiam. Ponto.


14 de dez. de 2019

[Música] Outras 5 descobertas no Spotify

Em 2016 em fiz uma postagem compartilhando os 5 artistas/álbuns que eu havia descoberto através do Spotify e que eu estava escutando na época. 2019 está chegando perto do fim, e eu acho que vale a pena atualizar a lista pra ver o quanto meu gosto musical mudou nesse tempo.

Assim, vamos lá a mais 5 artistas/álbuns que descobri nos últimos tempos e que eu tenho ouvido bastante.

 1 - Pure Prairie League - Two Lane Highway


Há exatos um ano eu estava iniciando minha jornada por Red Dead Redemption 2, e Pure Prairie League esteve comigo em boa parte da jornada servindo como trilha sonora durante e depois das horas de jogatina. As minhas músicas preferidas são "Amie" do álbum Bustin Out e "Kentucky Moonshine" (que eu canto em looping pra ninar meu filho) do álbum Two Lane Highway.



2 - Yes Darling - Yes Darling


Yes Darling é o álbum de estreia da dupla de mesmo nome, composta por Ryan Montbleau e Hayley Jane. As faixas tem uma pegada indie, com bastante humor girando em torno do tema relacionamento. Vale a pena dar uma conferida, principalmente, nas faixas "Call Your Mother" e "The Things That You Could Be".


3 - Zaz - Paris


Paris é o 4º álbum da cantora francesa Isabelle Geffroy, ou simplesmente Zaz. Nesse álbum ela faz um tour por Paris, cantando sobre os principais pontos da cidade Luz. O destaque vai para as faixas "Champs-Elysées", "Paris sera toujours Paris" e "J'ai deux amours".


4 - António Zambujo - Guia


Apesar de falarmos a mesma língua, não lembro de ouvir música portuguesa. Talvez por achar que se restringia a fado. Então, Guia, do português António Zambujo, veio pra quebrar o preconceito e me despertar pra procurar mais coisa dos portugueses. Se o álbum como um todo não fosse delicioso de se ouvir, só a faixa "Zorro" já valia o disco.


5 - Marty Robbins - Gunfighter Ballads and Trail Songs


Marty Robbins não é nenhum desconhecido, já que a sua discografia consiste em mais de 52 álbuns de estúdio, mas era um total desconhecido pra mim até um tempo atrás. O álbum Gunfighter Ballads and Trail Songs é um dos mais conhecidos dele, e pra mim um dos melhores. Todas as faixas são boas, mas as minhas preferidas são "El Paso" e "Saddle Tramp". 


12 de dez. de 2019

[Jogos/Nostalgia] Dos 8 aos 128 - Parte 5 (PS2)


Voltando depois de 7 anos e meio, para mais um capítulo da série sobre os vídeo games que construíram meu caráter, falando dessa vez sobre o sucessor do Playstation 1, o Playstation 2, mais conhecido como PS2.

No post anterior eu falei que tinha ficado com o PS1 até 2004, mas pensando bem, não tenho mais tanta certeza disso. Pode ter sido 2004, mas também pode ter sido 2005... Mas isso não importa. O que importa é que foi no início da minha faculdade e que deve ter sido o vídeo game que eu passei mais tempo com ele como console principal. Não quer dizer que tenha sido o que eu mais joguei, mas foi o que eu passei mais tempo. Só mudei pro PS3 em 2011, e essa data eu tenho certeza, porque o meu primeiro jogo foi Mortal Kombat 9, e eu comprei na época do lançamento, e ele saiu em 2011. Mas isso é assunto prum novo post, que eu espero que não demore os mesmo 7 anos que esse demorou.

Retornando ao PS2, como eu o tive na época da faculdade, se por um lado eu tinha menos tempo para jogar, por outro, os passeios ao centro para comprar jogos eram agora mais comuns, porque eu tinha uma autonomia maior. Cansei de sair da faculdade e dar uma esticada até o centro. Na verdade esses passeios no centro de Recife eram o meu programa favorito nessa época. Pra quem conhece a região, vai entender um pouco o passei, pra que não conhece, basta dar uma olhada no mapa abaixo pra entender a jornada.


No centro do Recife tem uma rua bem famosa que é a Av. Conde da Boa Vista. Ela é o principal corredor de ônibus da cidade, e é uma das avenidas que corta a região comercial do centro de ponta a ponta. Logo no começo dessa avenida, na direção do centro histórico, ficam (ou ficavam, já que faz tempo que não vou lá), duas lojas de quadrinhos, uma especializada em comics, e outra especializada em mangás. Minha primeira parada era sempre nelas. Gastava uns minutos olhando as novidades e caçando material antigo bacana e depois seguia a pé em direção ao Shopping Paço Alfândega. No meio do caminho eu sempre fazia uma parada numas barracas de jogos que ficaram perto da praça do Diário. Era aí que realmente eu gastava meu dinheiro.

Diferente do que tinha acontecido com o PS1 que eu encontrava jogo pirata nas lojas chinesas do Shopping, o canto que eu ia pra comprar jogos era nessas barracas. E foi através delas que eu conheci alguns dos meus jogos preferidos até hoje, como Fatal Frame 2, que tem uma das histórias de terror mais fodas de todos os tempos (sem falar da trilha sonora), associado com a jogabilidade que faz você ter que encarar de frente o medo a todo instante. Outros que joguei muito na época foram God of War, Guitar Hero, Need for Speed Underground 2, The Warriors, Shadow of the Colossus, GTA: San Andreas, Prince of Persia: Sands of Time, dentre outros.


Um outro fator que existiu a partir do PS2 pra mim, foi a possibilidade de baixar os jogos e gravar para jogar. Não que essa possibilidade não existisse no PS1, mas minha internet era muito ruim. Na época do PS2 ela melhorou, então eu conseguia baixar. Mas isso foi mais pra frente, porque apesar de poder baixar, em 2004-2005, eu não tinha gravador de DVD, só de CD. Então não adiantava de nada. Só mais perto do fim da minha experiência com o PS2 é que eu consegui um gradador de DVD e consegui copiar alguns jogos, como por exemplo o Star Wars Battlefront II.

Por tudo isso minha experiência com o PS2 foi bem bacana. Joguei muitos jogos legais, e tenho boas lembranças. Talvez não tenha sido melhor porque a faculdade tomava muito tempo, então o tempo de jogatina ficava restrito aos recessos de fim de ano, ou às "férias" da faculdade. E as aspas estão aí porque tinha vezes que um semestre entrava dentro do seguinte, mas isso vale um outro post.

Continua...

5 de dez. de 2019

[Cinema] Parasite (2019)


Há algum tempo, por meio de um grupo sobre quadrinhos, eu fiquei sabendo que ia ser lançado um filme coreano chamado Parasite. Na época devem ter comentado que o filme não tinha nada a ver com o mangá de mesmo nome que foi lançado há algum tempo pela editora JBC. Mas por algum motivo meu cérebro registrou como sendo uma adaptação.

Avançamos no tempo até essa semana, quando eu recebo um e-mail do Tracker que eu uso para "adquirir de forma alternativa" filmes asiáticos e me bate a curiosidade de saber se o filme já está disponível. 

Pra minha felicidade ele já estava disponível. 30 minutos depois o filme já estava no HD externo ligado à TV esperando que eu tivesse um momento livre para assistí-lo. Fato este que ocorreu essa semana....e ainda bem que aconteceu.

De cara posso fazer dois comentários. Primeiro que o filme não tem nada a ver com o mangá. Segundo que Parasite é um filmásso. 

Em Parasite (2019), filme dirigido por Bong Joon-ho, e ganhar de diversos prêmios, dentre ele a Palma de Ouro de Cannes, a história gira em torno de duas famílias coreanas. Uma pobre, os Kim, e uma rica, os Park. Pai, mãe e dois filhos. Uma menina e um menino, em ambos os casos. 

Um dia, um amigo do filho da família Kim, faz uma visita e comenta que era tutor da filha dos Park, mas que teria que viajar pra estudar e sugere que ele fique no seu lugar. Após uma entrevista bem sucedida o rapaz começa a trabalhar como tutor, e uma vez dentro da casa dos Park, começa a por em prática um plano pra empregar os outros membros da família, que um a um vão assumindo empregos junto da família Park, e passando a agir feito parasitas. A partir daí a história se desenvolve com algumas reviravoltas importantes que pegam o expectador totalmente de surpresa.

O filme é na verdade uma grande metáfora à luta de classes. Ao ponto de no final você se questionar quem realmente são os parasitas na história. 

Apesar dos temas abordados, ele não é chato ou pedante. Muito pelo contrário. O filme mescla bem doses de humor e de Thriller, conseguindo prender o expectador do início ao fim, apesar dos 120 min do filme.

[Nostalgia/Quadrinhos] As bancas que me construíram - Parte 1

Um dos maiores prazeres que eu fui desenvolvendo ao longo da minha vida foi o de frequentar bancas de revista. Esse monumento urbano em extinção nesse tempos atuais, sempre foi fonte de alegria e de divertimento pra mim. Na verdade, parando pra pensar, as bancas que eu frequentei não são só parte da paisagem de fundo na história da minha vida. Elas são personagem ativas e eu consigo associar diversos momentos da minha vida com fatos envolvendo as bancas e os quadrinhos.

Até os meus 13-14 anos, quadrinhos pra mim era sinônimo de Turma da Mônica. Meu pai viajava bastante a trabalho, e em cada viagem ele voltava com umas 2 ou 3 novas revistinhas da Turma da Mônica pra mim e pro meu irmão. Normalmente era uma da Mônica e uma do Cascão. As vezes uma do Cebolinha. Muito raramente uma das outras. 


Além das revistinhas ganhadas do meu pai nessas viagens (que eram lidas em fração de segundos), eu sempre conseguia descolar uns trocados pra comprar outras na banca de revista que ficava na rua de trás. Na verdade, perto da casa dos meus pais existem duas bancas de revistas. Essa que fica na rua de trás, e outra que fica na mesma rua, sendo que a primeira sempre foi melhor em termos de quadrinhos do que a outra. Então, basicamente eu só frequentava essa da rua de trás. A única lembrança relacionada à quadrinhos que eu tenha dessa banca que ficava na mesma rua, é a de comprar as quadrinizações das animações de Dragon Ball que saíram pela editora Abril em meados dos anos 90, e que eu posso considerar como o precursor da minha predileção por mangás.

 
Quando eu era criança, essa banca da rua de trás, que por sinal, foi o local que eu mais frequentei na vida, porque eu parava nela praticamente todo dia dos meus 14 até os 22 anos, era muito diferente do que é hoje em dia. Naquela época você não conseguia entrar dentro dela. As revistas ficavam nas prateleiras no fundo da banca, e você tinha que perguntar o que queria, ou ficar se apoiando no balcão por onde lhe atendiam tentando ver o que tinha lá dentro. Na parte da frente tinha algumas revistas penduradas, mas eram as revistas semanais da época (Manchete, Veja, Istoé, etc) e jornais. Algumas revistinhas da Turma da Mônica e de Super-Heróis ficavam expostas em uns suportes de plásticos ainda na frente da banca, perto do freezer de sorvete. Depois de alguns anos arranjaram um suporte metálico que ficavam na calçada, do lado de um orelhão, onde colocavam mais revistas de super-heróis.

 
Nessa época, como eu só conhecia a Turma da Mônica, era praticamente o que eu comprava com o dinheiro que sobrava do lanche, ou com uns trocados que eu conseguia descolar com meus pais. Das revistas de super-heróis eu só conhecia os personagens por causa das animações que passavam na TV. X-Men, Homem Aranha, etc. Então eu até tinha curiosidade, mas como não sabia por onde começar, quase nunca me arriscava a comprar. Vale lembrar que o dinheiro era pouco, então tinha que ser bem investido. Lembro de certa vez ter visto uma revista da Espada Selvagem de Conan guardada dentro da banca. Ela era maior que as revistas normais e eu fiquei impressionado, doido de vontade ver. Mas como ficava dentro da banca, e ela parecia "de adulto", fiquei só na vontade.

Nos anos 2000, houve uma reforma na banca e ela assumiu o formato que tem hoje em dia. Nessa mesma época começaram a ser publicados os mangás de Dragon Ball e de Cavaleiros do Zodíaco, que foram as primeiras HQs serializadas que eu acompanhei de fato. Por coincidência, nenhuma eu comprei o primeiro volume nessa banca. A primeira edição de Dragon Ball eu comprei em Petrolina numa viagem de férias, e a primeira de Cavaleiros do Zodíaco eu comprei em uma banca que ficava perto da parada onde eu pegava ônibus quando voltava do colégio. Outro mangá que eu comprei mais ou menos nessa época foi o de Ranma 1/2 publicado pela editora Animangá.

 
Esse mangá, por sinal, vale um parênteses. Eu não lembro exatamente se eu comprei primeiro Ranma 1/2, ou se os mangás da Conrad vieram primeiro. Nem o que me atraiu em Ranma. Nessa mesma época eu comprava umas revistas que falavam sobre anime. Acho que o nome era Anime Do, ou algo parecido, e... bem... a maioria dos animes eu não conhecia, mas morria de vontade de conhecer. Pode ser que o interesse tenha surgido daí. Mas o parênteses não era por causa disso. A publicação de Ranma 1/2 pela Animangá era uma doideira. Cada revista tinha quase 50 páginas. o que equivale mais ou menos a 1/4 da revista original japonesa e a coleção japonesa é composta de 38 volumes. Ou seja, a editora Animangá teria que publicar mais ou menos 152 números pra completar a coleção. Se a edição fosse mensal, levaria mais de 10 anos para ser concluída. O SE está aí porque na verdade a publicação era bimestral, o que faz com que ela só seria concluída após mais de 25 anos. E a periodicidade bimestral era bem teórica, porque na verdade a revista aparecia quando queria e tinha uma distribuição bem ruim. Eu nunca achava nessas bancas perto da casa dos meus pais. Só em uma banca que eu visitava as vezes perto do Mercado de Boa Viagem. O fato é que a editora Animanga publicou 29 edições e encerrou a publicação. Anos mais tarde a editora JBC republicou Ranma 1/2, agora no formato japonês e concluiu a publicação deve fazer uns 4-5 anos.


 Voltando. Além da reforma da banca e da publicação dos mangás, outro fator que agiu pra fazer eu ser frequentador assíduo de banca, foi o fato de começar a andar de ônibus. Nessa época eu passei a ir e voltar do colégio de ônibus, e a parada fica exatamente na rua da banca. Então eu sempre dava uma esticada até a banca pra ver se tinha chegado alguma novidade. Isso foi durante todo o resto do colégio e perdurou por boa parte da faculdade. 

As visitas diárias diminuíram, mas até 2013 semanalmente eu passava na banca e comprava minhas novidades de mangá. Em 2013 eu me mudei pra outro Estado, mas continuei indo à Recife praticamente todo mês por causa do doutorado, e a banca era parada obrigatória nessas viagens. No final de 2017 eu terminei meu doutorado. Com isso as viagens à Recife diminuíram. Passaram de mensal para trimestral, para semestral e nesse ano de 2019 nem isso. Aqui por onde eu moro agora eu tenho a minha "banca de estimação", mas ela nunca vai ser como "a minha banca de Recife". Os tempos são outros, eu sou outra pessoal. Felizmente as memórias ficam.    

Continua (eventualmente)....


26 de nov. de 2019

[Idiossincrasias/Literatura] A arca do tesouro


Quando eu era criança, na casa dos meus pais existia um móvel (que por sinal ainda existe) que era denominado como "A Arca", mesmo que na verdade ele fosse apenas uma cristaleira onde minha mãe guardava a louça que ela usava uma única vez por ano, na ceia de Natal. Na parte de baixo desse móvel, existiam dois compartimentos com portas onde os meus pais guardavam tralhas. De um lado ficavam as travessas e formas da minha mãe, enquanto que do outro ficavam os livros do meu pai. A coleção não era muito grande, nem tinha relíquias, mas para mim enquanto criança, aquilo exercia um enorme fascínio.

Dentre os livros que eu me recordo que ficavam guardados nesse móvel tinham: uma coleção da enciclopédia Barsa; uma coleção sobre personalidades históricas; uma coleção dos pensadores (que eu acabei doando pra UFPE quando me formei) e alguns clássicos. 

Meu pai sempre foi uma pessoa de gostos incomuns. Enquanto que por um lado o gosto literário e musical dele beire o erudito, ouvindo e lendo praticamente só os clássicos, por outro, o divertimento do domingo dele sempre foi ver as vídeo cassetadas do Faustão. Ele sempre ri com as mesmas piadas do Chaves, além de ter desenvolvido um gosto particularmente estranho por novelas mexicanas presentes na Netflix. 

Por causa desse gosto dele por clássicos, na minha infância e adolescência, sempre tive acesso a alguns deles, apesar de nunca tê-los lido. Dom Quixote (eu adorava ficar olhando as ilustrações do Gustave Doré), Crime e Castigo, Metamorfose, Processo, eram alguns desses livros que sempre estavam lá, que eu adorava pegar pra ver, mas tinha medo de ler. Medo na verdade não define bem o sentimento. Era mais um respeito. Como se eu não estivesse pronto, afinal de contas eram os livros do meu pai, a pessoa que eu considerava mais inteligente em todo o mundo.


De todos os clássicos que meu pai possuía, ele parecia ter uma predileção pelos de Dostoiévski e de Kafka, e talvez por isso, sempre tenham sido os autores que eu mais tive receio de ler. Ambos eu até tentei ler na minha adolescência, mas abandonei. Mais pelas edições que estavam velhas e fedendo a mofo, do que efetivamente por não ser capaz de ler. Fato é que eu nunca tinha lido nenhum dos dois.

Nesse ano de 2019 eu descobri que ia ser pai, e na minha mente veio a ideia fixa de que eu precisava ler esses dois autores, uma vez que meu pai tinha lido. Então pra ser pai era preciso ter lido Dostoiévski e Kafka. Não faz o menor sentido, mas na minha cabeça fazia. 


Kafka foi uma leitura mais tranquila. Em duas sentadas eu li Metamorfose. Durante minha vida toda tinha ouvido de diversas pessoas que Kafka era muito difícil, que era chato, etc. E muito pelo contrário, achei a leitura muito prazerosa e até bastante acessível, apesar de ter muito nas entrelinhas. Agora vencido o medo, acho que vou dar chance aos outros títulos do autor.

Já Dostoiévski não foi tão tranquilo pra mim. A leitura de Crime e Castigo se arrastou por quase 6 meses. Tive que recomeçar quando já tinha lido quase metade do livro porque não estava entendendo mais nada. Mas talvez a culpa nem seja do livro, e sim do meu tempo de leitura que estava bem comprometido nesse período. No fim, achei o livro bom. Talvez por já conhecer a história (esse é daqueles livros que mesmo sem ler você tem a trama toda na cabeça), não foi tão impactante pra mim. Mas ainda sim fiquei feliz de ler.

Pode ter sido loucura da minha cabeça ter me colocado essa obrigação, mas o fato é que minha esposa passou uma semana com 3 cm de dilatação, e no dia seguinte ao término da minha leitura de Crime e Castigo meu filho nasceu. A maioria das pessoas vai dizer que foi só coincidência, mas pra mim ele sabia que pra eu ser um bom pai eu teria que ter terminado esses clássicos.