11 de jun. de 2009

[Futebol/Nostalgia] 3 dentro 3 fora e picolé de abacate


Quanto era pequeno, nos idos de 94, 95, a rua onde eu moro fervilhava de crianças. Eram três prédios com facilmente mais de 20 crianças, e não estamos falando desses espigões de hoje em dia e sim de prédios pequenos de no máximo 6 andares. Além disso, o bairro onde eu moro era muito mais calmo do que hoje em dia, dava pra contar nos dedos das mãos o número de carros que passavam numa tarde. Num lugar assim, com muitas crianças a rua se tornava o principal ponto de encontro pras brincadeiras, principalmente o bom e velho futebol. Barrinha, barrão, barra-a-barra, zorrinha, 3 dentro 3 fora, bobinho, o número de variedades era quase infinito, sem contar as variações dentro das variedades.

Dentre estas a que mais jogávamos era sem dúvida 3 dentro 3 fora.

4 pessoas, um portão e uma bola, era tudo que precisávamos para passar um dia inteiro nos divertindo. Pra quem não conhece o jogo ele é bastante simples e é isso que o torna divertido. Das 4 pessoas uma fica no gol e as outras três jogam na linha. Se os jogadores de linha fizerem 3 gols troca o goleiro caso haja alguém esperando, se não houver mantém-se o goleiro até a linha cometer três “erros”, e é aí que entra a graça do jogo. Cada um cria a regra do que pode e o que não pode. No prédio vizinho jogava-se a variedade mais hardcore na minha opinião. Cada um só podia dar um toque na bola, só podia dar toque no ar, se desse dois era erro, se a bola parasse no chão tinha que ser levantada com um só toque, caso contrário era erro, se o goleiro agarrasse era ponto pra ele e pra finalizar se a bola saísse era erro. Isso sem falar que o portão onde jogávamos devia medir 1,70 m de altura por 2,50 m de largura o que tornava impossível fazer gol.

Nessa época eu devia ter uns 7 ou 8 anos e os outros jogadores eram sempre mais velhos, numa média de 4 ou 5 anos a mais. Pela diferença de idade eu mais assistia do que jogava, mas mesmo assim me divertia, principalmente quando conseguia sair do gol pra linha o que sempre provocava uma onda de gozação em cima de quem tinha cometido o último erro e ido pro gol.

Jogava isso todo dia durante as férias, às vezes começando de manhã e terminando a noite. Mas o tempo passou e a diferença de idade começou a ficar evidente. Os amigos que jogavam comigo começaram a entrar na adolescência e isso acabou fazendo as partidas diminuírem até pararem de vez.

Felizmente começaram a chegar outras crianças, dessa vez da minha idade, ao meu prédio o que possibilitou uma volta às velhas partidas de futebol. O portão agora não era mais o do prédio vizinho e sim o do meu prédio, que era maior e tornava as coisas mais fáceis. As regras também mudaram com o tempo, na verdade cada partida tinha uma regra diferente que precisava ser definida antes do início. Saiu o toque somente no ar, entrou só poder tocar de primeira, saiu o ponto ao agarrar a bola, depois de um tempo voltou a valer e por aí vai. A única coisa que não mudava era o fato de jogarmos a tarde inteira.

Uma das coisas que eu mais gostava e que era regra nas partidas era a pausa pra chupar picolé. Todo dia por volta das 3 horas da tarde o “Galego” passava na frente do meu prédio vendendo picolé. Galego era um garoto, uns 2 anos mais velhos que eu, que passava com uma caixa de isopor recheada de picolés todo santo dia aqui pelo prédio. Chocolate, morango, cajá, amendoim, limão, o estranho danoninho com leite condensado e o que eu mais gostava o de abacate, esses eram alguns dos sabores que eu me lembro que ele vendia. Mas o que tornava a coisa mais agradável era o preço, 10 centavos o picolé. Ter um real naquela época era sinal de uma tarde feliz recheada de futebol, suor e picolé.


Porém, o tempo foi passando, o bairro foi crescendo, os terrenos baldios foram se transformando em prédios, o número de carros foi crescendo e o jogo de bolo acabou ficando comprometido. Os carros que antes podia se contar nos dedos das mãos já não podia sem contados nem se usássemos os dos pés, de todas as crianças por sinal.

A brincadeira começou a se tornar mais perigosa. De quando em quando tínhamos que parar para deixar um carro passar, o que acabou tornando a brincadeira monótona. A dinâmica do jogo tinha acabado e com mães protetoras a maioria das crianças ficou impedida de brincar no meio da rua. E o jogo morreu de novo.

Não morreu de todo porque ainda continuamos jogando dentro do prédio, mas a graça não era a mesma. Nunca mais vimos cenas memoráveis como o chute de dentro do prédio que acertou magistralmente o pára-brisa de um carro em movimento, o incrível vôo para defender um gol feito do amigo mais goleiro nato que eu já tive, ou a bola que sobreviveu ao ser atropelada certeiramente pelo pneu de um fusca. Mas não morreu principalmente porque aqueles dias mágicos regados a picolé e sorvete ficarão eternamente na memória.

4 comentários:

  1. Puxaa, eu nunca tinha ouvido falar desse jogo.
    Eu nasci e moro em uma cidade pequena no interior do Maranhão.
    A minha infância foi das mais tranquilas e os jogos na rua eram os mais divertidos!
    Mas eram diferentes. Tinha o taco-na-lata, manchete, polícia e ladrão, queimada e muitos outros.
    Hoje em dia é mas difícil ver crianças na rua brincando. Aqui ainda se vê, nos bairros mas tranquilos.
    Acredite, eu já cheguei a comprar picolé de 5 centavos. :D
    E ainda era aqueles do palito premiado. Se achasse o palito ganhava mais um!
    Aí já viu né?
    Era picolé que não acabava mais.

    Esses dias ficaram também eternamente na minha memória. :)

    Ótimo blog. E o do Calvin e Haroldo também. ;)

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  2. Aqui também brincava dessas coisas, polícia e ladrão, barra bandeira, mas essas eram as brincadeiras da noite dentro do predio geralmente, de dia o que rolava mais era futebol mesmo.
    E é uma pena hoje em dia estar fican do raro brincar na rua. Era muito bom, guardo bons momentos dessa época.

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  3. Hey, Sisto! Tu és recifense? Estudaste em que colégio? Será que agora eu vou me viciar neste teu blog também?
    Nossa!

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  4. Adolfo, sou recifense sim. Eu estudei no Santa Maria. Posto uma vez na vida, acho que não dá pra viciar, mas se quiser acompanhar fique a vontade.

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