13 de abr. de 2023

[Literatura] Um País Como Outro Qualquer

Ano passado (2022) eu ganhei de presente de aniversário da minha digníssima esposa o livro "Um País Terrível" do escritor russo radicado nos Estados Unidos Keith Gessen. Assim que o recebi, além de ler a sinopse, porque eu nunca tinha ouvido falar desse livro, eu dei uma leve torcida de nariz com medo da leitura ser um desfile de estereótipos. Mas como o livro tinha sido publicado pela Editora Todavia, e a curadoria deles nunca me decepciona, resolvi dar uma chance. Passei ele na frente da pilha e uma semana depois já tinha devorado as mais de 400 páginas do livro. E confesso que minha primeira impressão sobre o livro estava completamente equivocada.

Realmente, quando comecei a leitura, até parecia que eu ia acertar, afinal no livro Andrei, o personagem principal, é um russo que após o fim da União Soviética mudou com a família para a terra da liberdade, os Estados Unidos. Ele ainda era muito novo na época da mudança e praticamente não guarda lembranças do seu período soviético. As suas memórias do período são praticamente construídas em cima da vivência dos seus pais, que não mantinham recordações muito boas desse período. Andrei vive uma vida americana normal, tentando construir uma carreira acadêmica na área de estudos literários eslavos quando seu irmão, que ainda mora na Rússia, pede para ele ir ao país tomar conta da avó já idosa, enquanto ele faz uma viagem a trabalho.

Meu medo, era que a partir desse momento ele fosse ser só um choque de realidades. E de fato é isso que acontece, mas não do jeito que eu temia. No livro, Keith Gessen consegue de forma magistral apresentar toda a decadência russa sem ir pelo caminho fácil de culpar o socialismo e exaltar o capitalismo. Na verdade ele faz o caminho inverso, ele de certa maneira culpa o capitalismo pela decadência russa. Uma decadência que já existia de certa maneira na época da União Soviética, mas por outras questões, e que é agravada com a abertura abrupta ao capital estrangeiro que o país teve após a Perestroika. 

A relação de Andrei e sua avó é um dos destaques do livro. Ambos são personagens incríveis que evoluem muito bem durante o livro. Não só eles, mas todos os personagens são muito bem construídos. Você se importa com cada um deles a medida que avança as páginas. Outro aspecto que eu gostei é que ele é praticamente uma "city tour" pela cidade de Moscou. A medida que eu fui lendo o livro eu fui marcando no Google Maps os locais citados e isso teve um poder de imersão que deu outra dimensão ao livro. Parecia que eu ia andando junto com Andrei admirando a arquitetura soviética se misturando com a Moscou moderna, com todos os seus excessos e toda a sua história.

Além disso, as reflexões sobre capitalismo, socialismo, União Soviética, Rússia moderna são muito bem colocadas. Sem endeusar nem demonizar nenhum sistema, apenas mostrando que a Rússia atual, com todas as suas contradições, é fruto de um processo histórico que está sendo bom para alguns, ao mesmo tempo que está sendo péssimo para outros, assim como qualquer outro sistema. 


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