5 de dez. de 2019

[Nostalgia/Quadrinhos] As bancas que me construíram - Parte 1

Um dos maiores prazeres que eu fui desenvolvendo ao longo da minha vida foi o de frequentar bancas de revista. Esse monumento urbano em extinção nesse tempos atuais, sempre foi fonte de alegria e de divertimento pra mim. Na verdade, parando pra pensar, as bancas que eu frequentei não são só parte da paisagem de fundo na história da minha vida. Elas são personagem ativas e eu consigo associar diversos momentos da minha vida com fatos envolvendo as bancas e os quadrinhos.

Até os meus 13-14 anos, quadrinhos pra mim era sinônimo de Turma da Mônica. Meu pai viajava bastante a trabalho, e em cada viagem ele voltava com umas 2 ou 3 novas revistinhas da Turma da Mônica pra mim e pro meu irmão. Normalmente era uma da Mônica e uma do Cascão. As vezes uma do Cebolinha. Muito raramente uma das outras. 


Além das revistinhas ganhadas do meu pai nessas viagens (que eram lidas em fração de segundos), eu sempre conseguia descolar uns trocados pra comprar outras na banca de revista que ficava na rua de trás. Na verdade, perto da casa dos meus pais existem duas bancas de revistas. Essa que fica na rua de trás, e outra que fica na mesma rua, sendo que a primeira sempre foi melhor em termos de quadrinhos do que a outra. Então, basicamente eu só frequentava essa da rua de trás. A única lembrança relacionada à quadrinhos que eu tenha dessa banca que ficava na mesma rua, é a de comprar as quadrinizações das animações de Dragon Ball que saíram pela editora Abril em meados dos anos 90, e que eu posso considerar como o precursor da minha predileção por mangás.

 
Quando eu era criança, essa banca da rua de trás, que por sinal, foi o local que eu mais frequentei na vida, porque eu parava nela praticamente todo dia dos meus 14 até os 22 anos, era muito diferente do que é hoje em dia. Naquela época você não conseguia entrar dentro dela. As revistas ficavam nas prateleiras no fundo da banca, e você tinha que perguntar o que queria, ou ficar se apoiando no balcão por onde lhe atendiam tentando ver o que tinha lá dentro. Na parte da frente tinha algumas revistas penduradas, mas eram as revistas semanais da época (Manchete, Veja, Istoé, etc) e jornais. Algumas revistinhas da Turma da Mônica e de Super-Heróis ficavam expostas em uns suportes de plásticos ainda na frente da banca, perto do freezer de sorvete. Depois de alguns anos arranjaram um suporte metálico que ficavam na calçada, do lado de um orelhão, onde colocavam mais revistas de super-heróis.

 
Nessa época, como eu só conhecia a Turma da Mônica, era praticamente o que eu comprava com o dinheiro que sobrava do lanche, ou com uns trocados que eu conseguia descolar com meus pais. Das revistas de super-heróis eu só conhecia os personagens por causa das animações que passavam na TV. X-Men, Homem Aranha, etc. Então eu até tinha curiosidade, mas como não sabia por onde começar, quase nunca me arriscava a comprar. Vale lembrar que o dinheiro era pouco, então tinha que ser bem investido. Lembro de certa vez ter visto uma revista da Espada Selvagem de Conan guardada dentro da banca. Ela era maior que as revistas normais e eu fiquei impressionado, doido de vontade ver. Mas como ficava dentro da banca, e ela parecia "de adulto", fiquei só na vontade.

Nos anos 2000, houve uma reforma na banca e ela assumiu o formato que tem hoje em dia. Nessa mesma época começaram a ser publicados os mangás de Dragon Ball e de Cavaleiros do Zodíaco, que foram as primeiras HQs serializadas que eu acompanhei de fato. Por coincidência, nenhuma eu comprei o primeiro volume nessa banca. A primeira edição de Dragon Ball eu comprei em Petrolina numa viagem de férias, e a primeira de Cavaleiros do Zodíaco eu comprei em uma banca que ficava perto da parada onde eu pegava ônibus quando voltava do colégio. Outro mangá que eu comprei mais ou menos nessa época foi o de Ranma 1/2 publicado pela editora Animangá.

 
Esse mangá, por sinal, vale um parênteses. Eu não lembro exatamente se eu comprei primeiro Ranma 1/2, ou se os mangás da Conrad vieram primeiro. Nem o que me atraiu em Ranma. Nessa mesma época eu comprava umas revistas que falavam sobre anime. Acho que o nome era Anime Do, ou algo parecido, e... bem... a maioria dos animes eu não conhecia, mas morria de vontade de conhecer. Pode ser que o interesse tenha surgido daí. Mas o parênteses não era por causa disso. A publicação de Ranma 1/2 pela Animangá era uma doideira. Cada revista tinha quase 50 páginas. o que equivale mais ou menos a 1/4 da revista original japonesa e a coleção japonesa é composta de 38 volumes. Ou seja, a editora Animangá teria que publicar mais ou menos 152 números pra completar a coleção. Se a edição fosse mensal, levaria mais de 10 anos para ser concluída. O SE está aí porque na verdade a publicação era bimestral, o que faz com que ela só seria concluída após mais de 25 anos. E a periodicidade bimestral era bem teórica, porque na verdade a revista aparecia quando queria e tinha uma distribuição bem ruim. Eu nunca achava nessas bancas perto da casa dos meus pais. Só em uma banca que eu visitava as vezes perto do Mercado de Boa Viagem. O fato é que a editora Animanga publicou 29 edições e encerrou a publicação. Anos mais tarde a editora JBC republicou Ranma 1/2, agora no formato japonês e concluiu a publicação deve fazer uns 4-5 anos.


 Voltando. Além da reforma da banca e da publicação dos mangás, outro fator que agiu pra fazer eu ser frequentador assíduo de banca, foi o fato de começar a andar de ônibus. Nessa época eu passei a ir e voltar do colégio de ônibus, e a parada fica exatamente na rua da banca. Então eu sempre dava uma esticada até a banca pra ver se tinha chegado alguma novidade. Isso foi durante todo o resto do colégio e perdurou por boa parte da faculdade. 

As visitas diárias diminuíram, mas até 2013 semanalmente eu passava na banca e comprava minhas novidades de mangá. Em 2013 eu me mudei pra outro Estado, mas continuei indo à Recife praticamente todo mês por causa do doutorado, e a banca era parada obrigatória nessas viagens. No final de 2017 eu terminei meu doutorado. Com isso as viagens à Recife diminuíram. Passaram de mensal para trimestral, para semestral e nesse ano de 2019 nem isso. Aqui por onde eu moro agora eu tenho a minha "banca de estimação", mas ela nunca vai ser como "a minha banca de Recife". Os tempos são outros, eu sou outra pessoal. Felizmente as memórias ficam.    

Continua (eventualmente)....


Um comentário:

  1. Recordei bastante de minha juventude nas bancas de revista de Caruaru-PE, em especial uma banca de usadas localizada dentro da feira-livre. Curiosamente, esses dias, recordei bastante destas bancas...
    Meu irmão atualmente reside em Recife e vim parar no Piauí.
    As bancas mudaram muito, mas, ao seu modo, ainda resistem. Quanto a quadrinhos de banca, difícil prever quanto tempo mais durarão. Tudo mudou tão rapidamente.
    Abraços!

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